Thursday, September 15, 2005

A caixa - parte II

Abro a porta do melhor quarto do hotel; as malas já estão lá. Uma cidade pequena como essa não deveria possuir um hotel deste nível. A cama, onde podem dormir pelo menos quatro pessoas diferentes, possui massagem e aquecimento automáticos e está coberta de chocolates e rosas. A TV de plasma cobre toda a parede e está exibindo canais japoneses dos quais nunca ouvi falar. A banheira poderia hospedar uma festa; o aparelho se som poderia suprir um trio elétrico; a privada me faz rir de seu ridículo (aquecida e toca música); mesmo o famoso book do hotel, colocado discretamente sob a bíblia, inédito. Encadernado em couro com mais de 200 páginas e conteúdo que me satisfaria se eu fosse gay, ou interessado em S&M, ou praticante de orgias, ou mesmo fantasiasse com celebridades (há clones de Britney Spears até Sandy). No lugar dos preços, um durex preto colado, onde está escrito “cortesia do hotel”. Tão discreta que basta digitar um número específico no teclado do telefone seguido do código do produto escolhido, escrito abaixo da foto. Noto que a caixa está no canto do quarto. Não sofreu nenhum arranhão na viagem. Tudo no mínimo incomum, mas sedutor demais para que se perca tempo perguntando por quê. Tomo um banho de um deus, como o jantar de um deus e me preparo para dormir um sono de um deus. E durmo, até em torno de duas da manhã quando sou acordado por um toque de campainha. Levanto me sentindo como se estivesse dentro d´água; visto o roupão de linho que já estava ao lado da cama, abro a porta e dou de cara com uma maravilhosa mulher, que reconheço da primeira foto da primeira página do book. Pele morena, alta e magra, mas com curvas que alguém magro desta forma deve ter roubado para ter. Cabelo comprido e anelado, traços fortes e uma boca que ainda irão mandar prender por possuir. Vestida como sua profissão exige, maquiada com preto intenso nos olhos. Vestido vulgar, mas funciona, e funciona muito mais que eu imaginaria. E o detalhe importante: o mesmo sorriso sem artificialidade compartilhado pela cidade. Noto que ela encara a caixa no canto do quarto. Olha diretamente para ela, depois diretamente nos meus olhos, exercendo uma espécie de influência que me incomoda tanto quanto me agrada. Se ela me mandasse ajoelhar neste momento eu me ajoelharia; porém ela somente sorri. Vulgar, com a presença de uma santa.
-Eu vim te trazer um sonho. Aceita se trocar por ele?
-Me trate como se eu fosse seu – não acreditei que saiu de minha boca.
Passamos um bom tempo somente trocando cheiros. Ela deitada, roupas no chão; eu senti o leve odor de sua pele que me embriagou como uma droga. Cheiro leve mas penetrante, cheiro de mulher, como eu gostaria que toda mulher cheirasse. Algo intangível, como o sonho que ela veio trazer para mim. Enrosquei seus cabelos em meu rosto e seu cheiro que fez querer ser seu filho. Aproximei-me dos seus seios mas não toquei em sua pele. Ela também sentia meu cheiro e parecia o sorver, como se estivesse absorvendo alguma coisa de mim. Me senti confortável, quente, e flutuando como em um útero. Lábios como os dela não foram feitos para serem beijados, mas para manter um homem acordado noites inteiras imaginando qual seria a sensação daqueles lábios tocando qualquer lugar em seu corpo. Mas mesmo assim os beijei.
-Você quer me provar de verdade? – sussurrado em meu ouvido.
Estou amarrado e vendado na cama. Não posso me mover e não posso ver. Fico largado assim por uma eternidade, não posso ouvi-la no quarto. Começo a sentir a agonia de alguém que foi enganado e foi amarrado para ser largado aqui. Quando já penso em gritar, sinto um cheiro diferente, porém muito mais inebriante. A mulher sem nome colocou sua vagina próxima à minha boca. Beijo-a com meus lábios, como a sua boca, porém com mais delicadeza, quero tocá-la com desespero, mas permaneço amarrado. Quando dou uma primeira lambida lenta, sinto um gosto familiar, porém muito mais envolvente que o gosto das outras que já experimentei. Ao mesmo tempo sua boca envolve meu pênis e ela não parece fazê-lo por obrigação, parece adorá-lo como se fosse um objeto sagrado, esfregando-o em seu rosto, lambendo cada um dos centímetros com igual dedicação, forte e fraco, explorando toda a área, com uma lentidão insuportável , igual à lentidão de minhas lambidas. Esse ritmo aumenta conforme o meu ritmo aumenta, estamos sincronizados, me lambuzo com seu líquido e gozo ao mesmo tempo que ela, com a língua penetrando em sua abertura e sentindo o movimento do orgasmo dos músculos da vagina comprimindo-a. Adormeço ainda vendado e amarrado e tenho o sonho que ela veio me trazer.

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